Manuscritos e primeiras edições recontam história de Machado de Assis
Meta é resgatar o espírito do escritor, diz coordenadora da mostra
Publicado em 18/11/2023 - 10:01 Por Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
A Ocupação Machado de Assis, aberta à visitação neste sábado (18), não tem uma ordem cronológica ou caminho prévio a ser percorrido. A ideia de que cada pessoa navegue livremente pelos manuscritos originais, primeiras edições, fotos e vídeos foi pensada a partir dos próprios livros do escritor.
Nas vitrines, muitas das primeiras edições de vários livros de um dos mais importantes escritores brasileiros e de língua portuguesa, como Quincas Borba, de 1891 e Desencantos: fantasia dramática, de 1861. Ao lado, em muitos casos, os contratos com os editores em que vendia os direitos sobre sua obra. Nesses originais é possível descobrir, entre outros detalhes, que o romance Esaú e Jacó se chamaria, inicialmente, Último, entre outras rasuras que nunca foram publicadas.
Há ainda documentos menos esperados, como um parecer de 1862, a respeito da tradução da comédia Os Nossos Íntimos, do francês Victorien Sardou, do período em que trabalhou como censor teatral.
Vozes negras
O espaço se inspira na decoração do século 19, a partir da mobília que Machado usava em sua casa, no número 18 da Rua Cosme Velho, no Rio de Janeiro. É possível sentar em cadeiras com o estilo da época para assistir os vídeos em que atrizes negras interpretam trechos das poesias, peças e romances do escritor. “A gente está diante também de um Machado que foi embranquecido. Então, por isso também que a gente, a partir dos documentos, a partir de várias análises críticas que estão distribuídas aqui também no audiovisual, e essa coisa das leituras, também faz um paralelo com a contemporaneidade”, explica Andreia sobre a opção de marcar a negritude de Machado, que muitas vezes, foi retratado como um homem branco. Entre as vozes que fazem parte desse trabalho estão Elisa Lucinda, Aysha Nascimento, Cleide Queiróz e Juçara Marçal, dirigidas por Edi Cardoso. Assim como toda a exposição é pensada a partir da acessibilidade, os vídeos têm tradução em libras.As crônicas, textos críticos e poemas publicados pelo escritor em jornais também podem ser consultados em um volume que reuniu esse material especialmente para a exposição. Pode ser lido, por exemplo, o soneto À Ilma Sra. D.P.J.A., publicado em 1854 no Periódico dos Pobres, considerado o primeiro poema de Machado a chegar aos jornais.
Xadrez e grego
Um tabuleiro de xadrez lembra da paixão que o escritor tinha pelo jogo. As peças reproduzem as encontradas na casa do autor. Estudos de Machado em grego compõe o lado erudito do escritor, enquanto as fotos de seu enterro, com o caixão carregado por escritores famosos e observado por uma multidão, mostram que o escritor tinha apelo popular.Um globo terrestre interativo permite que se escutem trechos do livro Dom Casmurro escrito para alguns dos diversos idiomas que foi traduzido para o japonês, árabe e alemão. A exposição acontece em paralelo com o lançamento, em 26 volumes, de todas as publicações que Machado lançou em vida, pela editora Todavia.
A mostra vai até 4 de fevereiro de 2024 e é gratuita.